No primeiro bimestre da terceira série do ensino médio, na disciplina Sociologia, estamos estudando desde o início do ano letivo os direitos civis, políticos, sociais e humanos, que estruturam a cidadania moderna.
Em 28 de agosto de 1963, o pastor batista Martin Luther King (1929-1968), líder do movimento que reivindicava a extensão dos direitos civis aos negros norte-americanos, reuniu 250 mil pessoas em uma marcha realizada em Washington. Popularmente conhecido como "Eu tenho um sonho", o discurso proferido na ocasião por ele até hoje é lembrado por ser uma das peças mais contundentes em defesa da igualdade e contra a discriminação racial.
Conforme combinamos em sala de aula, cada aluno terá de elaborar um texto com, no mínimo, 30 linhas, articulando o discurso de Martin Luther King com os conteúdos trabalhados em sala de aula sobre a cidadania moderna e seus direitos fundamentais (civis, políticos, sociais e humanos). Reflita, também, em seu texto, sobre a realidade atual brasileira. Que tipos de direitos são garantidos em sua plenitude, no Brasil, e em quais grupos de direitos ainda temos muito a avançar? Em nosso país, todos têm plena igualdade de acesso à cidadania? Há grupos marginalizados? Quais? Procure sempre fundamentar a sua resposta com argumentos e exemplos.
No dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado por um segregacionista (indivíduo favorável à continuidade da segregação dos negros na sociedade norte-americana), na cidade de Memphis, antes de mais uma marcha que conduziria em defesa dos direitos civis e contra a discriminação racial.
A seguir, os fragmentos de seu discurso antológico:
“[...] Há cem anos, um grande
americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação da
Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um grande raio de luz de
esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas
chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para pôr fim à
longa noite de cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos encarar a trágica realidade
de que o negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro está
ainda infelizmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da
discriminação. Cem anos mais tarde, o negro ainda vive numa ilha isolada de
pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais
tarde, o negro ainda definha nas margens da sociedade americana estando exilado
em sua própria terra. Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramatizar essa
terrível condição.
De certo modo, viemos à
capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitetos da nossa
república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da
Independência, eles estavam a assinar uma nota promissória da qual todo
americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens
teriam garantia aos direitos inalienáveis de “vida, liberdade e à procura de
felicidade”.
É óbvio que a América de hoje
ainda não pagou essa nota promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor.
Em vez de honrar esse compromisso sagrado, a América entregou ao povo negro um
cheque inválido devolvido com a seguinte inscrição: “Saldo insuficiente”.
Porém recusamo-nos a
acreditar que o banco da justiça abriu falência. Recusamo-nos a acreditar que
não haja dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidade desse país.
Então viemos para descontar esse cheque, um cheque que nos dará à vista as
riquezas da liberdade e a segurança da justiça.
[...] Agora é tempo de tornar
reais as promessas da democracia. Agora é hora de sair do vale escuro e
desolado da segregação para o caminho iluminado da justiça racial. Agora é hora
de retirar a nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a sólida
rocha da fraternidade. Agora é hora de transformar a justiça em realidade para
todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação não
levar a sério a urgência desse momento. Esse verão sufocante da insatisfação
legítima do negro não passará até que chegue o revigorante outono da liberdade
e igualdade. Mil novecentos e sessenta e três não é um fim, mas um começo. E
aqueles que creem que o negro só precisava desabafar e que agora ficará
sossegado, acordarão sobressaltados se o país voltar ao ritmo normal.
Não haverá nem descanso nem
tranquilidade na América até o negro adquirir seus direitos como cidadão. Os
turbilhões da revolta continuarão a sacudir os alicerces do nosso país até que
o resplandecente dia da justiça desponte [...].
[...] Há quem pergunte aos
defensores dos direitos civis: “Quando é que ficarão satisfeitos?” Não
estaremos satisfeitos enquanto o negro for vítima dos indescritíveis horrores
da brutalidade policial. Jamais poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos
corpos, cansados com as fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso aos
hotéis de beira de estrada e das cidades. Não poderemos estar satisfeitos
enquanto a mobilidade básica do negro for passar de um gueto pequeno para um
maior. Não podemos estar satisfeitos enquanto nossas crianças forem destituídas
de sua individualidade e privadas de sua dignidade por placas onde se lê
“somente para brancos”. Não poderemos estar satisfeitos enquanto um negro no
Mississippi não puder votar e um negro em Nova Iorque achar que não há nada
pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos e só estaremos
satisfeitos quando “a justiça correr como a água e a retidão como uma poderosa
corrente” [...].
Digo-lhes hoje, meus amigos,
que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho.
É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia
essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença:
“Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são
criados iguais.”
Eu tenho um sonho que um dia,
nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os
filhos dos descendentes de donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da
fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia
mesmo o estado do Mississippi, um estado desértico sufocado pelo calor da injustiça,
e sufocado pelo calor da opressão, será transformado num oásis de liberdade e
justiça.
Eu tenho um sonho que meus
quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela
cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia
o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras
de “interposição” e “anulação”, um dia bem lá no Alabama meninos negros e
meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas,
como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje [...].
E quando isso acontecer,
quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada
vila e cada lugar, de cada estado e cada cidade, seremos capazes de fazer
chegar mais rápido o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos,
judeus e gentios (não-judeus),
protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga
canção espiritual negra: “Finalmente livres! Finalmente livres! Graças a Deus Todo
Poderoso, somos livres, finalmente.”