sexta-feira, 10 de julho de 2020

Quando começa a vida humana?

Na nossa sociedade, alguns assuntos nos unem: combate ao desemprego, controle da inflação, melhoria das condições materiais de vida da população. Sobre outras questões, no entanto, a divergência é enorme e isso fica evidente mesmo se imaginássemos a nossa escola um país independente.

Com uma população inferior a 300 pessoas, em tese uma situação que favoreceria a construção de consensos, não chegaríamos a posições unânimes sobre questões polêmicas. Por exemplo, neste novo país, o aborto seria legalizado ou considerado crime? A maconha seria legalizada? A pena de morte seria aplicada? Seríamos tolerantes ou intolerantes com relação à chegada de imigrantes? E com relação ao casamento gay? Respeitaríamos ou não a propriedade privada?

Daí, portanto, a necessidade da criação de partidos e movimentos sociais com doutrinas políticas específicas e bem definidas. Caberia ao cidadão aproximar-se do grupo que defendesse posições similares as suas para lutar por aquilo que considerasse seus direitos.

Quando o assunto é a legalização do aborto, as pessoas costumam rapidamente se dividir em duas partes: uma passa a defender com veemência e coerência a legalização do aborto; outra a defender com igual energia e eloquência que o aborto é um homicídio (portanto, um crime).

O primeiro link ao final desta postagem traz uma reportagem da Revista Superinteressante sobre a questão central para encaminhar este debate: "Afinal, quando começa a vida humana?".

Várias respostas são possíveis, tanto no campo científico, como no religioso, conforme vocês constatarão ao ler a reportagem.

Entre os cientistas, parece prevalecer aquilo que a reportagem chama de visão neurológica, aquela que considera a vida ser o oposto da morte. Como a morte humana, em países como Estados Unidos e Brasil, é decretada quando se verifica a ausência de ondas cerebrais, a vida humana, consequentemente, seria iniciada quando as atividades cerebrais se estabelecem pela primeira vez. Os cientistas estimam que isso aconteça entre a oitava e a vigésima semana de gestação. Portanto, nos países em que o aborto é legalizado, autoriza-se a sua realização normalmente em um ponto intermediário, até a 14ª-16ª semana de gestação. Até aí, não existiria um ser humano, mas um embrião. Sendo assim, retirá-lo não seria um homicídio.

No campo religioso, a ideia predominante, especialmente em um país majoritariamente cristão como o Brasil, é de que a vida humana começa quando o óvulo é fecundado pelo espermatozoide. O embrião, portanto, já seria um ser humano e removê-lo consistiria em um assassinato. Ademais, para esses religiosos, uma vez que a vida é dada por Deus, caberia apenas a Ele retirá-la.

Entretanto, mesmo entre os religiosos, há diferenças de interpretações. A igreja católica, ao longo da história, alternou momentos de condenação e de tolerância ao aborto. A partir do papado de Gregório 9º, iniciado em 1227, e até 1869, já no papado de Pio 9º, havia a determinação de que embrião que não estivesse completamente formado não poderia ser chamado de ser humano. Assim, o aborto praticado nessa fase não deveria ser classificado como homicídio.

Os muçulmanos, normalmente em nosso senso comum associados a posições ainda mais conservadoras, acreditam que a vida humana surge quando Alá sopra a alma dentro do feto, o que aconteceria 120 dias após a fecundação. Embora condenem o aborto, são tolerantes a ele quando a mulher ficou grávida em decorrência de um estupro.

Para os judeus, a vida começa a partir do 40º dia de gestação, quando eles acreditam que o feto adquire características humanas. Antes disso, o aborto não é considerado homicídio, no judaísmo.

Enfim, o debate é longo e a leitura a seguir, imperdível.

Em tempo: no Brasil, o aborto é legalizado em apenas três situações: quando a mulher engravidou em decorrência de um estupro, quando a gravidez coloca em risco a vida da mulher, quando já se constatou que o bebê nascerá com anencefalia, ou seja, sem cérebro (porque os bebês anencéfalos morrem poucos minutos ou horas depois do nascimento). 

Para saber como os outros países do mundo se posicionam em relação ao aborto, acesse o segundo link com uma reportagem publicada no site da Exame.

Boas leituras! 

https://super.abril.com.br/ciencia/vida-o-primeiro-instante/

https://exame.com/mundo/como-o-aborto-e-tratado-pelo-mundo/